Falta uma semana para o QDay
Hoje foi dia de debate radiofónico e queremos recuperar a opinião de Paulo Baldaia, da TSF, e o seu pedido de esclarecimentos “Em torno de ideias, não de medos. É o medo que tem estado a empatar o desenvolvimento económico e social do país”.
Numa primeira análise, ficámos aquém desse objetivo.
No POS2020 de ontem falou-se de GERHUP
Se nunca ouviu falar do GERHUP, trata-se de um concurso público internacional com o objetivo de fazer a gestão de todos os recursos humanos da Administração Central do Estado Português, numa lógica de serviços partilhados, lançado e adjudicado em 2010.
Um exemplo do que não fazer
Neste concurso foram introduzidas cláusulas, supostamente técnicas, para impedir empresas portuguesas de concorrer. Foi escolhido o mesmo fornecedor de software de um projeto (Rigore/GERFIP) que tinha corrido extraordinariamente mal. O projeto foi adjudicado há 5 anos, em 2010, mas, 5 anos depois, apenas processa salários de pouco mais de mil pessoas.
No entanto, estranhamente, continua a ser apresentado como o futuro da gestão de recursos humanos da Administração Pública em Portugal.
A decisão não foi tomada por desconhecimento. Já existia o exemplo do SIGDN, em que o mesmo software não tinha conseguido fazer a gestão de recursos humanos da defesa nacional, e já existia o Rigore/Gerfip em que o mesmo fornecedor de software tinha tido uma implementação pior que medíocre na área da gestão financeira pública.
Um exemplo do que é possível com competências nacionais
Por contraponto, no mesmo domínio dos serviços partilhados de gestão de recursos humanos, pode ver o que foi feito em muitíssimo menos tempo e com muito mais sucesso, pela DROAP do Governo Regional dos Açores, com soluções nacionais. E porque foi este o único projeto nacional finalista dos prémios EPSA 2013.
Mais dinheiro em cima do problema
Recentemente e sem qualquer abertura ao mercado, o projeto GERHUP teve um reforço de 9 220 034,36 euros, dos quais mais de 2 milhões são licenças, pagas diretamente a um fornecedor estrangeiro, para a sua aplicação no Ministério da Educação.
Estes 9 milhões vão ser gastos a substituir (sem benefícios reais) soluções nacionais já existentes nos agrupamentos escolares, de custo global muito menos elevado (cerca de um décimo daquele valor).
Contribui isto para o emprego em Portugal? Para a viabilidade das empresas que tinham investido e criado soluções adotadas pela generalidade dos agrupamentos escolares? Para a expansão e internacionalização das empresas portuguesas?
Claro que não. Nada justifica esta decisão deprimente para a nossa economia.
Substituir centenas de soluções por uma única
No imaginário de quem ouve “vamos substituir centenas de soluções por uma única”, tal soa como uma grande poupança, quando é apenas ilusão demagógica.
Atendendo a que a solução mais divulgada junto dos agrupamentos escolares custa pouco mais de mil euros, o produto único é pelo menos 10 vezes mais caro do que todas as soluções que vai substituir. E é importado.
Porque colide o GERHUP com o nosso objetivo estratégico
Porque colide o GERHUP com o nosso objetivo estratégico de evitar novos resgates por credores internacionais?
- porque é um péssimo exemplo de aplicação de fundos públicos
- porque é um péssimo exemplo de execução de projetos
- porque é um péssimo exemplo de valorização das competências nacionais
- porque a empresa estatal que o implementa está em concorrência (desleal) com as empresas nacionais fornecedoras de soluções e que pagam impostos
- porque é privilegiado um produto importado
- porque, deste modo, se agrava a dívida nacional e a dependência do exterior
Somos bons a trabalhar muito e mal
Segundo o trabalho de Kátia Catulo, para o jornal i, bem documentado com dados, em Portugal somos bons a trabalhar muito e mal. Tal requer uma análise profunda das causas.
As causas estruturais “do costume”
É largamente aceite que a situação em Portugal não depende de causas fortuitas ou conjunturais, mas sim de causas estruturais.
E, quando se procuram causas estruturais para a corrente e persistente crise económica em Portugal (e financiarmo-nos, mesmo que a valores historicamente baixos, significa que a crise económica perdura), costumam ser arroladas duas causas fundamentais:
- por um lado, a insuficiente preparação dos trabalhadores portugueses (“somos bons a trabalhar mal”)
- por outro lado, a insuficiente quantidade e qualidade do capital investido.
Ambas estas causas têm a particularidade de não poderem ser alteradas em poucos anos. Requerem-se décadas para que as novas gerações tenham a formação e as competências idealizadas. Tal como se requerem décadas para que sucessivos bons investimentos garantam ativos geradores de elevadas produtividades.
Um diagnóstico que nos imobiliza
Deste longínquo horizonte ao imobilismo, é um pequeno passo. Não há nada fazer. Os problemas colocam-se, prementes, no curto prazo. As soluções, só a próxima geração as terá disponíveis. Mais vale deixar tudo como está ou fazer remendos conjunturais, como cortar cegamente qualquer despesa, forçar a emigração, aumentar dívida ou reduzir salários.
A causa real: a qualidade da decisão
Na realidade, nem o capital atualmente existente, nem o trabalho disponível são os fatores determinantes desta crise estrutural. O que determina a medíocre situação económica em que nos encontramos é a má qualidade de muitas das decisões dos nossos decisores. Em particular das que envolvem bens transacionáveis internacionalmente.
O efeito multiplicador dos saldos comerciais com o exterior
Numa economia, os bens transacionáveis internacionalmente representam uma pequena parte, mas têm um efeito multiplicador considerável sobre o resto da economia. Criando muito mais empregos ou destruindo muito mais empregos, em função dos saldos comerciais, positivos ou negativos, que essa economia consegue gerar.
A teoria do Arkansas
Do ponto de vista da economia, as mais perniciosas de todas as decisões são as suportadas pela teoria de que não importa distinguir o que compramos com elevada incorporação de valor em Portugal daquilo que compramos direta ou indiretamente ao exterior, agravando as importações.
Alguém, a nível federal/central, compensará (por via orçamental, financeira ou monetária) os desequilíbrios comerciais existentes, quaisquer que eles sejam. Teoria que, em pouco mais de 10 anos, nos conduziu a apenas podermos chamar soberana à nossa dívida.
Favorecer a incompetência importada
E, por isso, mesmo em áreas em que não temos absolutamente nenhuma necessidade (como o software de gestão) há quem distorça a concorrência e crie monopólios para empresas externas (a quem estamos, por exemplo e como acima vimos, a pagar para ensinarmos a processar vencimentos na administração pública portuguesa há 5 anos, ou na defesa nacional há 10 anos; isto é, não é por serem mais competentes que são favorecidas).
Demasiados decisores sem inteligência económica
O problema é de decisão: os nossos maus decisores (que não são todos, felizmente) têm muito poder e decidem irracionalmente, decidem sem inteligência económica, decidem como decidiriam as pessoas que nos quisessem prejudicar, agravando a nossa dependência externa.
Vale de pouco procurarmos exportar mais, enquanto houver maus decisores em Portugal que mais do que anulam, com importações absurdas (incluindo os Audi da fatura da sorte, que devem ser dos carros que menos incorporação nacional têm) o esforço das empresas exportadoras.
Favorecimento de empresas importadoras de software
O software é talvez o bem transacionável mais importante na atualidade. É o que faz as maiores fortunas, é o que distingue as empresas com maior crescimento, é o que cria e precisa de mais mão de obra. Parece que apenas Portugal não vê isso. Em Portugal, as regras da objetividade e do rigor são constantemente adulteradas, para (numa atitude provinciana) favorecer empresas importadoras de software em detrimento das empresas produtoras de software nacional.
Há um historial de decisões deprimentes, no valor de largas centenas de milhões de euros, que o comprova.
E não é absolutamente nada equivalente equiparar a importação de software com a produção de software. Ambos os processos (de importação e de produção) podem ser executados por empresas nacionais, ambos podem até criar emprego em Portugal, mas apenas a produção cria valor. A importação destrói valor nacional, agrava o desequilíbrio externo, aumenta a dependência dos financiadores, agudiza a crise económica e condiciona o nosso futuro.
Energias renováveis que esgotam os nossos recursos
Mas não é só o software. Também a independência energética ficou fortemente prejudicada quando a EDP-Renováveis, ignorando o cluster que em torno dos consórcios Ventinveste e Eneop se vinha a criar no Norte, decidiu fazer “um dos maiores contratos do mundo” com a Vestas. Mesmo que o vento continue a ser nacional, as eólicas agravaram o nosso défice externo.
Estratégia no ISG
Num colóquio no ISG, ontem, Passos Coelho falou um pouco de Estratégia.
Definiu-a como uma “estratégia que tem vindo a ser desenhada” e apresentou pontos coincidentes com o objetivo estratégico que propomos seja debatido no QDay. Com efeito, subscrevemos inteiramente a necessidade de “um crescimento que não está a gerar dívida”.
Porém, “o caminho de abertura económica” parece muito pouco para ser considerado uma Estratégia.
O nosso futuro requer uma Estratégia previamente definida e que sirva como orientação para todas as nossas decisões. Isto é, uma Estratégia
- bem formulada,
- comunicada e divulgada a todos os agentes económicos,
- acompanhada constantemente por indicadores de desempenho,
- e com execução verificada e aperfeiçoada.
Ora o que temos tido é uma estratégia não comunicada, não medida, não acompanhada (BSC), com execução não controlada e com numerosos casos que contrariam a estratégia de “crescimento sem gerar dívida”, como a aplicação do GERHUP ao Ministério da Educação, que o próprio Primeiro Ministro recentemente assinou.
As Tecnologias de Informação também suportam a Estratégia
Por a estratégia ser tão importante, a Quidgest criou e disponibiliza um sistema de gestão da formulação e da execução da estratégia, segundo a metodologia de Kaplan e Norton, o Balanced Scorecard (BSC Quidgest).
Curso da SABE online sobre Balanced Scorecard
Voltaremos provavelmente a falar do BSC Quidgest, mas queremos reforçar que os cinco participantes no QDay 2015 que escrevam as frases mais inspiradas sobre BSC e Estratégia, beneficiarão da oferta do curso da SABE online sobre Balanced Scorecard.
Bike To Work
A propósito de inspiração, amanhã é dia de experimentar ir de bicicleta para o trabalho.
E, como em qualquer dia do ano em que nos visite, amanhã teremos lugar na Quidgest para guardar a sua bicicleta.
Boas pedaladas!
Com os melhores cumprimentos
João Paulo Carvalho
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