Sociedade da Informação
Durante anos, falar em Sociedade da Informação em Portugal foi falar de
utilização de bens de informação. Pela população, pelos organismos públicos,
pelas empresas, em vários setores. Mas sempre, e apenas, utilização
e consumo de TIC.
A nossa ambição, com o QDay, é dar um novo significado à expressão Sociedade da
Informação, promovendo o muito que já é feito pela produção nacional de bens e
serviços para a Sociedade da Informação.
E esta Sociedade de Informação, que ambicionamos ajudar a construir, tem um
papel fundamental a desempenhar no objetivo estratégico de impedir que Portugal
volte a ser resgatado por credores internacionais.
Depende de nós, mas não depende só de nós. Depende de um modelo de decisão que
confie nas competências tecnológicas nacionais, que crie mais oportunidades para
a inovação, que decida e governe com inteligência estratégica.
Desatenção
A atenção a quem cria valor na Sociedade da Informação é diminuta. A tal ponto
que só quanto se atingem níveis de sucesso muito elevados é que alguém repara em
empresas como a Farfetch.
Mas também não se acompanhou o desequilíbrio crescente que, ao longo dos anos,
existiu entre consumo nacional e produção nacional, na Sociedade da Informação.
O que fez com que esta tenha contribuído gravemente para o desequilíbrio e para
a dívida externa.
Um elefante que entrou na sala
Neste aspeto, a desatenção sobre o desequilíbrio externo não foi diferente da
dada a outros setores, o que nos conduz à pior situação devedora de sempre.
Como noticiava hoje a TSF, nas suas perguntas
para o próximo governo: A dívida externa líquida chegou no segundo
trimestre deste ano a um valor negativo de 104,7% do PIB (perto de 180 mil
milhões de euros), depois de no primeiro trimestre ter chegado ao recorde nunca
visto de -106,5%. A dívida externa líquida tem ainda sofrido um constante
agravamento: em 2011 rondava os -85%; em 2005 os -45%; e em 2000 pouco mais de
-20% do PIB.
Ricardo Cabral fala de um elefante na sala, mas nós gostaríamos mais de perceber
como é que deixámos que ele entrasse na sala ou como e quem o atraiu ou levou
para a sala. Ou, ainda, como garantimos que, se tirarmos este (ou parte deste)
elefante da sala, outro não volta a ser convidado a entrar para o seu lugar.
Dependência desnecessária
No que se refere ao software de gestão das grandes empresas e do setor público,
a dependência de fornecedores externos é gritante. E gritantemente
desnecessária.
Mas conta com a conivência de algumas consultoras e empresas importadoras
nacionais, muito bem sucedidas num modelo de negócio que explora os medos e a
aversão ao risco dos nossos piores decisores.
Um mito
À semelhança do que todos individualmente já fazemos, ao preferir comprar
nacional, é óbvio que os nossos governos e as nossas grandes empresas também o
fazem, na contratação de tecnologias de informação.
Infelizmente, isto é um mito.
Porque estamos no mercado, porque temos esperança que muitas destas decisões
venham a ser revertidas nos próximos tempos e porque interessa sobretudo
contrariar o padrão, não nos cabe identificar cada caso isolado.
Porém, sabemos que uma poupança considerável pode ser obtida e que resultados
muito bons podem ser alcançados ao nível do comércio externo (quer reduzindo
importações, quer aumentando exportações), pelo simples ato de se permitir que
as soluções tecnológicas nacionais se apresentem a concurso, em igualdade de
tratamento, nas grandes empresas e nos organismos públicos e em projetos de
desenvolvimento, de manutenção ou de substituição de soluções de gestão.
Por nós
A alternativa de desenvolvimento, social e económico, que passa por nós,
é uma fórmula que usamos pouco, em Portugal.
A nossa cultura ainda é sebastiânica (um “desejado” há-de chegar com a solução),
provinciana (a solução há-de vir de fora) e irresponsável (a culpa é dos
“outros”).
Por isso, o sentimento dominante da nossa classe política (mas não só) é que a
solução para os nossos problemas tem de vir de fora.
Mais do que contar connosco próprios, mais do que colaborar entre nós, a nossa
“tradição” é ficar à espera de soluções externas:
- aplicações
que “já tenham dado provas” (“para quê reinventar a roda?”)
- investimento
direto estrangeiro (chinês, angolano, espanhol ou alemão)
- incentivos
e subsídios do novo quadro comunitário (para colocar dinheiro sobre os nossos
problemas e para aumentar a oferta, quando o problema é a ausência de
oportunidades de procura)
- parceiros
mais fortes, que nos ajudem a crescer
- compradores
das nossas startups
- financiadores
externos
- e,
até mesmo, guiões
para programas de governo
No entanto, a fórmula por nós tem, mesmo assim, sido usada, como a obra
de Fernando Sousa e Ileana Monteiro, Colaborar
para Inovar, vencedora do primeiro prémio Decidir
Melhor, demonstra.
Reformas estruturais e parcerias internacionais
Talvez tenham recebido o convite do INDEG-IUL ISCTE Executive Education para
participar na Conferência “O(s)
Futuro(s) da Economia Portuguesa – Que Reformas Estruturais? Que Parcerias
Internacionais?”, a ter lugar no próximo dia 15 de Outubro.
Todos os debates sobre reformas estruturais são importantes e este vai
servir-nos para esclarecer aquilo com que não concordamos.
Com efeito, a descrição do evento diz o seguinte: “Este evento tem como objetivo
promover a reflexão e o debate sobre as alternativas de desenvolvimento da
economia portuguesa, num quadro interno que continua a sugerir reformas
estruturais e num contexto europeu e mundial que apela ao reforço e extensão de
parcerias.”
É este reforço e extensão de parcerias que normalmente reflete a preponderância
que já tem, na nossa sociedade, a parte que beneficia com importações e
representações de marcas internacionais.
Precisamos de parcerias “porque somos pequeninos”
Contrariamente a outro mito criado, não somos demasiado pequenos.
Ficamos demasiado
pequenos quando o IUL-ISCTE, promotor desta conferência, contrata licenças para
o seu software de gestão a um fornecedor de software externo, sem consultar as
empresas fornecedoras de software nacional.
Ficamos mais pequenos e mais insignificantes. Ao mesmo tempo que deixamos de
poder integrar tantos técnicos formados no IUL-ISCTE quanto gostaríamos de
fazer.
Naturalmente que temos parceiros, em todo o mundo. Mas não é a esses que esta
linha estratégica se refere. Refere-se a parceiros maiores, a quem possamos
servir. Não são alianças entre iguais. São “alianças” entre “coitadinhos” e
“potentados”. Que nos são propostas num contexto de dependência. Nós precisamos
deles e eles não precisam de nós.
Nesta linha, de uma oferta relativamente forte de empresas de tecnologias de
informação em Portugal, passámos a ter um conjunto de serviçais em empresas
“implementadoras” (colocam em produção sistemas de empresas externas, limitados
por estas e em nome destas), de “quality assurance” (encontram erros e falhas,
fazem apenas testes, não desenvolvem nem criam nada) ou de “call center”
(registam os incidentes, “aturam” os clientes, seguem procedimentos rotineiros).
Os empregos assim criados nestes chamados “centros de competências”, são os mais
mal pagos, dentro das estruturas que os acolhem, são os mais facilmente
descartáveis (face a outros recursos vindos de países com ainda piores
salários), são os que não têm qualquer poder de decisão. Nem adquirem quaisquer
competências que lhes permitam ser autónomos no futuro.
Também não é esta a Sociedade da Informação que pretendemos ajudar a construir.
Reinventar a roda vale a pena
Vale a pena reinventar a roda,
- quando
a roda é mais cara que a sua reinvenção
- quando
a roda demora mais tempo a adaptar do que a reinventar
- quando
a roda, bem vista em pormenor, se acaba por revelar quadrada
- quando
a roda nos coloca, como instituição e como país, numa posição subalterna, de
dependência
- quando
queremos conhecer e dominar a engenharia da roda, para a continuarmos a explorar
e desenvolver de forma inovadora.
Basta procurar imagens de rodas para provar que, tal como qualquer outra
invenção, a roda tem sido reinventada inúmeras vezes.
Criar vantagens competitivas
Inovar e reinventar é importante. As vantagens competitivas não nascem com as
instituições, com as empresas ou com os países. É necessário criá-las!
Esta criação dá trabalho, requer coerência ao longo dos anos (que melhor imagem
existe do que a paisagem
do Alto Douro vinhateiro para o demonstrar) e exige um posicionamento
diferente daquele a que estamos habituados desde que temos uma moeda forte, como
o euro, no bolso.
Temos de privilegiar o criar, o investigar, o imaginar, o inovar, o conceber e o
produzir em detrimento do comprar, apesar de este ser muito mais fácil.
Mas é nas piores crises (entre nós, 1383, 1755 são bons exemplos) que se criam
as mais duradouras vantagens competitivas do futuro.
Ou não. Durante toda a segunda metade do século XIX, Portugal afastou-se
continuamente da Europa. Sem que daí tenha surgido nenhuma vantagem competitiva
assinalável.
Mais de 20 anos de persistência
As empresas mais conscientes do setor, algumas das quais estão presentes no QDay
2015, já estiveram noutros QDay ou expressaram-nos o seu apoio (como Advantis,
Bright Partners, Contactus, Dynasys, Infosistema, ISA, JLM, Masterlink,
Primavera, VisionIT, WeDo, Werinteraction ou Winning), ou as associações do
setor (a ANETIE, o TICE, que apoiam o QDay 2015), partilham muitas das nossas
ideias.
Andamos a lutar há mais de 20 anos para que os nossos governos e os nossos
partidos políticos percebam o potencial tecnológico e económico que têm à sua
disposição em Portugal, nomeadamente na oferta de soluções de software.
Este é um bom momento para este potencial ser plenamente aproveitado.
O QDay já está a ser acompanhado pela Comunicação Social
Veja, por exemplo, no SapoTek: QDay
quer debater estratégias para a criação de valor nas Tecnologias de Informação.
UStream
Para quem não conseguir estar presente, o QDay 2015 pode ser também acompanhado,
ao longo do dia de amanhã (24 de setembro), em
http://www.ustream.tv/channel/q-day.
Até amanhã
Amanhã, encontramo-nos na Culturgest, a partir das 8h45m, com um cafezinho
matinal. Os trabalhos iniciam-se às 9h10m e a Agenda encontra-se aqui.
Se não puder estar em todas as sessões, selecione as que mais lhe interessarem.
Aproveite igualmente os workshops. Esperamos por si.
Com os melhores cumprimentos
João Paulo Carvalho
PS: Para ler
todos os QDay News
clicar aqui
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