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Sobre o QDay Conference 2015 

Sociedade da Informação

Durante anos, falar em Sociedade da Informação em Portugal foi falar de utilização de bens de informação. Pela população, pelos organismos públicos, pelas empresas, em vários setores. Mas sempre, e apenas, utilização e consumo de TIC.

A nossa ambição, com o QDay, é dar um novo significado à expressão Sociedade da Informação, promovendo o muito que já é feito pela produção nacional de bens e serviços para a Sociedade da Informação.

E esta Sociedade de Informação, que ambicionamos ajudar a construir, tem um papel fundamental a desempenhar no objetivo estratégico de impedir que Portugal volte a ser resgatado por credores internacionais.

Depende de nós, mas não depende só de nós. Depende de um modelo de decisão que confie nas competências tecnológicas nacionais, que crie mais oportunidades para a inovação, que decida e governe com inteligência estratégica.

Desatenção

A atenção a quem cria valor na Sociedade da Informação é diminuta. A tal ponto que só quanto se atingem níveis de sucesso muito elevados é que alguém repara em empresas como a Farfetch.

Mas também não se acompanhou o desequilíbrio crescente que, ao longo dos anos, existiu entre consumo nacional e produção nacional, na Sociedade da Informação. O que fez com que esta tenha contribuído gravemente para o desequilíbrio e para a dívida externa.

Um elefante que entrou na sala

Neste aspeto, a desatenção sobre o desequilíbrio externo não foi diferente da dada a outros setores, o que nos conduz à pior situação devedora de sempre.

Como noticiava hoje a TSF, nas suas perguntas para o próximo governo: A dívida externa líquida chegou no segundo trimestre deste ano a um valor negativo de 104,7% do PIB (perto de 180 mil milhões de euros), depois de no primeiro trimestre ter chegado ao recorde nunca visto de -106,5%. A dívida externa líquida tem ainda sofrido um constante agravamento: em 2011 rondava os -85%; em 2005 os -45%; e em 2000 pouco mais de -20% do PIB.

Ricardo Cabral fala de um elefante na sala, mas nós gostaríamos mais de perceber como é que deixámos que ele entrasse na sala ou como e quem o atraiu ou levou para a sala. Ou, ainda, como garantimos que, se tirarmos este (ou parte deste) elefante da sala, outro não volta a ser convidado a entrar para o seu lugar.

Dependência desnecessária

No que se refere ao software de gestão das grandes empresas e do setor público, a dependência de fornecedores externos é gritante. E gritantemente desnecessária.

Mas conta com a conivência de algumas consultoras e empresas importadoras nacionais, muito bem sucedidas num modelo de negócio que explora os medos e a aversão ao risco dos nossos piores decisores.

Um mito

À semelhança do que todos individualmente já fazemos, ao preferir comprar nacional, é óbvio que os nossos governos e as nossas grandes empresas também o fazem, na contratação de tecnologias de informação.

Infelizmente, isto é um mito.

Porque estamos no mercado, porque temos esperança que muitas destas decisões venham a ser revertidas nos próximos tempos e porque interessa sobretudo contrariar o padrão, não nos cabe identificar cada caso isolado.

Porém, sabemos que uma poupança considerável pode ser obtida e que resultados muito bons podem ser alcançados ao nível do comércio externo (quer reduzindo importações, quer aumentando exportações), pelo simples ato de se permitir que as soluções tecnológicas nacionais se apresentem a concurso, em igualdade de tratamento, nas grandes empresas e nos organismos públicos e em projetos de desenvolvimento, de manutenção ou de substituição de soluções de gestão.

Por nós

A alternativa de desenvolvimento, social e económico, que passa por nós, é uma fórmula que usamos pouco, em Portugal.

A nossa cultura ainda é sebastiânica (um “desejado” há-de chegar com a solução), provinciana (a solução há-de vir de fora) e irresponsável (a culpa é dos “outros”).

Por isso, o sentimento dominante da nossa classe política (mas não só) é que a solução para os nossos problemas tem de vir de fora.

Mais do que contar connosco próprios, mais do que colaborar entre nós, a nossa “tradição” é ficar à espera de soluções externas:

-       aplicações que “já tenham dado provas” (“para quê reinventar a roda?”)

-       investimento direto estrangeiro (chinês, angolano, espanhol ou alemão)

-       incentivos e subsídios do novo quadro comunitário (para colocar dinheiro sobre os nossos problemas e para aumentar a oferta, quando o problema é a ausência de oportunidades de procura)

-       parceiros mais fortes, que nos ajudem a crescer

-       compradores das nossas startups

-       financiadores externos

-       e, até mesmo, guiões para programas de governo

No entanto, a fórmula por nós tem, mesmo assim, sido usada, como a obra de Fernando Sousa e Ileana Monteiro, Colaborar para Inovar, vencedora do primeiro prémio Decidir Melhor, demonstra.

Reformas estruturais e parcerias internacionais

Talvez tenham recebido o convite do INDEG-IUL ISCTE Executive Education para participar na Conferência “O(s) Futuro(s) da Economia Portuguesa – Que Reformas Estruturais? Que Parcerias Internacionais?”, a ter lugar no próximo dia 15 de Outubro.

Todos os debates sobre reformas estruturais são importantes e este vai servir-nos para esclarecer aquilo com que não concordamos.

Com efeito, a descrição do evento diz o seguinte: “Este evento tem como objetivo promover a reflexão e o debate sobre as alternativas de desenvolvimento da economia portuguesa, num quadro interno que continua a sugerir reformas estruturais e num contexto europeu e mundial que apela ao reforço e extensão de parcerias.”

É este reforço e extensão de parcerias que normalmente reflete a preponderância que já tem, na nossa sociedade, a parte que beneficia com importações e representações de marcas internacionais.

Precisamos de parcerias “porque somos pequeninos”

Contrariamente a outro mito criado, não somos demasiado pequenos.

Ficamos demasiado pequenos quando o IUL-ISCTE, promotor desta conferência, contrata licenças para o seu software de gestão a um fornecedor de software externo, sem consultar as empresas fornecedoras de software nacional.

Ficamos mais pequenos e mais insignificantes. Ao mesmo tempo que deixamos de poder integrar tantos técnicos formados no IUL-ISCTE quanto gostaríamos de fazer.

Naturalmente que temos parceiros, em todo o mundo. Mas não é a esses que esta linha estratégica se refere. Refere-se a parceiros maiores, a quem possamos servir. Não são alianças entre iguais. São “alianças” entre “coitadinhos” e “potentados”. Que nos são propostas num contexto de dependência. Nós precisamos deles e eles não precisam de nós.

Nesta linha, de uma oferta relativamente forte de empresas de tecnologias de informação em Portugal, passámos a ter um conjunto de serviçais em empresas “implementadoras” (colocam em produção sistemas de empresas externas, limitados por estas e em nome destas), de “quality assurance” (encontram erros e falhas, fazem apenas testes, não desenvolvem nem criam nada) ou de “call center” (registam os incidentes, “aturam” os clientes, seguem procedimentos rotineiros).

Os empregos assim criados nestes chamados “centros de competências”, são os mais mal pagos, dentro das estruturas que os acolhem, são os mais facilmente descartáveis (face a outros recursos vindos de países com ainda piores salários), são os que não têm qualquer poder de decisão. Nem adquirem quaisquer competências que lhes permitam ser autónomos no futuro.

Também não é esta a Sociedade da Informação que pretendemos ajudar a construir.

Reinventar a roda vale a pena

Vale a pena reinventar a roda,

-       quando a roda é mais cara que a sua reinvenção

-       quando a roda demora mais tempo a adaptar do que a reinventar

-       quando a roda, bem vista em pormenor, se acaba por revelar quadrada

-       quando a roda nos coloca, como instituição e como país, numa posição subalterna, de dependência

-       quando queremos conhecer e dominar a engenharia da roda, para a continuarmos a explorar e desenvolver de forma inovadora.

Basta procurar imagens de rodas para provar que, tal como qualquer outra invenção, a roda tem sido reinventada inúmeras vezes.

Criar vantagens competitivas

Inovar e reinventar é importante. As vantagens competitivas não nascem com as instituições, com as empresas ou com os países. É necessário criá-las!

Esta criação dá trabalho, requer coerência ao longo dos anos (que melhor imagem existe do que a paisagem do Alto Douro vinhateiro para o demonstrar) e exige um posicionamento diferente daquele a que estamos habituados desde que temos uma moeda forte, como o euro, no bolso.

Temos de privilegiar o criar, o investigar, o imaginar, o inovar, o conceber e o produzir em detrimento do comprar, apesar de este ser muito mais fácil.

Mas é nas piores crises (entre nós, 1383, 1755 são bons exemplos) que se criam as mais duradouras vantagens competitivas do futuro.

Ou não. Durante toda a segunda metade do século XIX, Portugal afastou-se continuamente da Europa. Sem que daí tenha surgido nenhuma vantagem competitiva assinalável.

Mais de 20 anos de persistência

As empresas mais conscientes do setor, algumas das quais estão presentes no QDay 2015, já estiveram noutros QDay ou expressaram-nos o seu apoio (como Advantis, Bright Partners, Contactus, Dynasys, Infosistema, ISA, JLM, Masterlink, Primavera, VisionIT, WeDo, Werinteraction ou Winning), ou as associações do setor (a ANETIE, o TICE, que apoiam o QDay 2015), partilham muitas das nossas ideias.

Andamos a lutar há mais de 20 anos para que os nossos governos e os nossos partidos políticos percebam o potencial tecnológico e económico que têm à sua disposição em Portugal, nomeadamente na oferta de soluções de software.

Este é um bom momento para este potencial ser plenamente aproveitado.

O QDay já está a ser acompanhado pela Comunicação Social

Veja, por exemplo, no SapoTek: QDay quer debater estratégias para a criação de valor nas Tecnologias de Informação.

UStream

Para quem não conseguir estar presente, o QDay 2015 pode ser também acompanhado, ao longo do dia de amanhã (24 de setembro), em http://www.ustream.tv/channel/q-day.

Até amanhã

Amanhã, encontramo-nos na Culturgest, a partir das 8h45m, com um cafezinho matinal. Os trabalhos iniciam-se às 9h10m e a Agenda encontra-se aqui. Se não puder estar em todas as sessões, selecione as que mais lhe interessarem. Aproveite igualmente os workshops. Esperamos por si.

 

Com os melhores cumprimentos

João Paulo Carvalho

 

PS: Para ler todos os QDay News clicar aqui

 

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